terça-feira, 4 de maio de 2010

De: Cesário Verde




Eu que sou feio, sólido, leal
A ti que és bela, frágil, assustada
Quero estimar-te, sempre recatada
Numa existência honesta, de cristal

Sentado à mesa de um café devasso
Ao avistar-te há pouco, fraca e loura
Nesta Babel tão velha e corruptora
Tive tentações de oferecer-te o braço

E quando socorreste um miserável
Eu, que bebia cálices de absinto
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável

Ela aí vem, disse eu para os demais
E pus-me a olhar, vexado e suspirando
O teu corpo que pulsa, alegre e brando
Na frescura dos linhos matinais

Vi-te pela porta envidraçada
E invejava, talvez não o suspeites
Esse vestido simples, sem enfeites
Nessa cintura tenra, imaculado

3 comentários:

Filipesz disse...

De volta ao activo esta ala e com um bom poema do nosso Cesário:

Anónimo disse...

Sem dúvida um belo poema!
Parabéns por mais esta inciativa de refresh!

Anónimo disse...

SENSACIONAL

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